Love Between Fairy and Devil: exemplo de amadurecimento e transformação


 

Saudações, Amigos do Casa Conto!

Tenho encontrado algumas produções interessantes do universo oriental que me despertaram a vontade de escrever sobre. Foi o caso desta série chinesa Love Between Fairy and Devil (Amor entre Fada e Demônio) e que está disponível na Netflix.

Terminei dia desses e pensei em escrever um pouco sobre alguns elementos narrativos que me chamaram a atenção.

A TRAMA

Um pouco da história para contextualizar as coisas, certo? Começamos a série acompanhando a rotina de Orquídea. Embora o título enfatize a palavra fada, a verdade é que a pobre Orquídea está bem abaixo do escalão. É um espírito de Flor em forma humana, mas ainda assim, com seu espírito primordial danificado.

 Então, não é possível dizer com toda a certeza o que ela é ou de onde ela veio. Ela apenas surgiu/ brotou de uma semente e tem sido mantida no Salão Arbitral dos Deuses cuidando dos destinos dos seres vivos. 

Orquídea vive em um mundo formado por 3 reinos e dois deles (Tribo das Fadas e a Tribo da Lua) estão em constante atrito. Resultado de uma antiga batalha entre o Imortal Supremo da Lua (chefe da Tribo da Lua) e a Deusa da Guerra Chidi da Tribo das Fadas. Esta batalha resultou no sacrifício de Chidi para selar o Supremo da Lua em um estado de suspensão eterna (não só ele, ela acaba selando os espíritos de milhares de guerreiros de ambas as tribos). Como não é possível matá-lo, o corpo do Supremo da Lua é mantido prisioneiro pelos Imortais da Tribo das Fadas. 

Bom, esse é o estado das coisas na época em que somos apresentados à Orquídea. A batalha causou um rancor imenso entre as tribos. E, nota: os autores conseguem desenvolver diversas tramas paralelas oriundas das consequências desta batalha nas personagens. Que não são poucas e não terei como descrever por aqui, recomendo assistir.

De qualquer forma, parece que o Supremo da Lua está acordando e os Imortais da Tribo das Fadas e o atual Deus da Guerra são convocados a juntarem seus poderes para mantê-lo aprisionado. 

Orquídea tem um certo fascínio pelo Deus da Guerra e no intuito de protegê-lo acaba caindo no local onde o Supremo da Lua está aprisionado. Sem saber como ou o porquê, Orquídea acaba despertando e libertando o perigoso prisioneiro.


A TRAJETÓRIA DO HERÓI E O AMADURECIMENTO DAS PERSONAGENS

Gosto muito do efeito ilustração. Algo muito bonito 
e épico para o dorama.

A história de Orquídea/Supremo da Lua se enquadra perfeitamente na Jornada do Heroi, com aqueles 12 passos propostos por Christopher Vogler e Joseph Campbell. 

Ela começa sua vida presa à uma rotina comum, cuidando dos destinos dos mortais e feliz em sua inocência, como um espírito de planta insignificante dentro da hierarquia das fadas. ( Etapa conhecida como O Mundo Comum) 

Despertar o Supremo da Lua é o que dá início a sua jornada rumo ao autodescobrimento. ( O Chamado à Aventura) e depois deste momento, ainda que ela tente permanecer como é, as coisas nunca retornam a serem as mesmas. 

De fato, o caminhar deles é cheio de renúncias. Ela é arrancada - literalmente - do espaço que amava e conhecia. Há uma cena que me corta o coração onde ela expressa a saudade imensa que sente do seu lar.  

Embora eu tenha ido embora por tão pouco tempo, parece algo muito distante agora. Sonho todos os dias que estou de volta ao Salão Arbitral, com minhas plantas, ouvindo a voz alta da Fada Dayin (...) Achei que viveria para sempre lá, amadurecendo com o tempo.


Este dorama é complexo e é o que me fascina, porque, entenda, ela ainda acha que mesmo abrindo mão da Tribo das Fadas vai poder se tornar esposa e parte da Tribo da Lua. Orquídea luta por isso, prova seu valor, deseja amar e ser amada, porém este é um destino que não lhe cabe. Acompanhar essa descoberta é bem triste. A gente vai aceitando os momentos felizes que vão se tornando o seu bem mais precioso já que, contraditório para uma planta, ela não pode ter raízes em lugar algum. 

Orquídea começa a história quase como uma criança. Até a voz da atriz emula a uma voz infantil. Inocente, de riso solto, feliz. E nos deparamos com uma evolução gradual e impressionante na narrativa. Eu realmente me surpreendi com a cena em que ela entende que para se tornar a Esposa do Supremo da Lua precisa conquistar este posto. Uma das cenas mais bonitas em minha opinião, porque, até então, ela simplesmente aceitava tudo o que o Supremo da Lua dizia ou fazia. 

Até hoje você fez o que quis. Me matar. Me amar. Me deixar. Você nunca perguntou o que eu queria. (...) O que eu quero é que você respeite minhas decisões. Seremos marido e mulher. No casamento não existe hierarquia. Iremos compartilhar sofrimentos, alegrias. Portanto, isso não pode continuar.

 A gente vai percebendo o quão forte é a personagem que começou tão bobinha, "burra" e infantil. 

Ele, em contrapartida, também passa por uma transformação enorme. A jornada do Supremo da Lua é baseada na falsa ideia de que não ter sentimentos o torna mais forte. Eu concordo com a premissa de que Sentimentos são um fardo - frase que sempre é entoada por ele. Mas, é também, de onde reside a maior força. É o que ele vai descobrindo em contato com Orquídea. As decisões se tornam mais difíceis, porque o mundo não é preto e branco. Quando ele recupera suas emoções entende melhor os motivos que levaram o seu pai a sacrificar a si e seu próprio filho pela Tribo da Lua. ( A relação do Supremo da Lua com o seu pai é explorada na série e é bastante importante para essa personagem. Bem como seu relacionamento com o irmão. Isso nos dá pistas importantes sobre o caráter da personagem e como se torna difícil para ele abraçar seu amor por Orquídea.)

Pois é. Não se trata de um simples dorama romântico, por isso, trouxe aqui. E estou explorando apenas as duas personagens principais. As outras personagens da trama são tão complexas e interessantes quanto.

ALGUMAS CRÍTICAS

Imagens coletadas da Internet


Achei muito engraçado o quanto de sofrimento as pobres personagens precisam aguentar. Sério. E, o grande problema é que, pelo menos um deles fica perdido na narrativa.

É o caso da cena em que o Supremo da Lua injeta em si mesmo uma espécie de veneno mortal, que não o mata, mas causa uma dor tremenda, como se os ossos se partissem todas as noites. No entanto, depois da primeira noite em que acompanhamos toda a dor e tal, simplesmente não há mais menção ao castigo. Eu fiquei...Então tá, né? (Se fosse só isso. Mal ele passa por essa prova, surge outra ainda pior...Imagino que o tanto de sofrimento seja para prepará-lo para a conquista de um novo poder no capítulo final, já que ele perdeu o Fogo do Inferno.)

Na verdade, esta falta de continuidade aponta para um problema: é difícil manter a complexidade da história com poucos capítulos. Não há tempo para desenvolver tanta coisa. Algo escapa. E essa é a minha maior crítica.

Imagino que não haverá uma segunda temporada, portanto os capítulos precisavam ter uma resolução rápida. Levando isso em consideração, o final me deixou um tanto decepcionada. 

É um final aberto a interpretação, meus amigos do Casa Conto.

Minha alma de romântica inveterada prefere acreditar que o Supremo realmente retorna, mas há uma ponta de dúvida. 

Você acredita em milagres? É a pergunta de Orquídea. 

E parece que essa é a explicação para o final de Love Between Fairy and Devil: milagres não precisam de explicações, eles apenas acontecem.



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