O grande Pã morreu.
Bom, já que tivemos mais um longo período de ausência, vamos dar uma faxina na casa, não é verdade? Aproveitando as novas funcionalidades disponíveis pelo e-blogger dei uma "redecorada" no Casa Conto! Sintam-se à vontade.
Post dedicado a recomendação de leitura. Trata-se de "A Feiticeira" de Jules Michelet.
Lendo muito, pesquisando muito e eis que me deparo com esta obra que considerei fascinante. Trata de uma longa reflexão sobre o papel da mulher na sociedade. E, para o meu deleite, encontro algumas referências relativas à alguns contos famosos - Barba Azul, Pele de Asno, Bela e a Fera... - em uma interpretação em que ainda não havia pensado.
O livro também conseguiu reacender meu interesse pela mitologia em geral, já que Michelet diversas vezes recorre às figuras mitológicas helênicas para ilustrar seus pensamentos.
J. Michelet debruça-se sobre a figura da mulher nas civilizações consideradas pagãs até a Idade Média, época famosa pelas inquisições e domínio absoluto da Igreja. O primeiro capítulo já anuncia a morte de Pã, divindade secundária no panteão de deuses gregos. Pã é filho de Hermes, representado como uma criatura metade homem, metade bode, com chifres que adornam sua cabeça. É um amante incansável, com um apetite sexual extraodinário. Este estranho ser habita as florestas e está sempre em busca de belas mulheres para satisfazer-se.
Michelet, no entanto, ao anunciar sua morte, declara a morte de toda uma crença pagã baseada nas forças da natureza. Pã torna-se dali por diante, o próprio Satã. ( E, então, podemos entender de onde surgiu a figura do homem com chifres, que vez ou outra aparece metade homem, metade bode. Esta é a minha interpretação baseada no que Michelet traz.)
Com a morte da Natureza vem também a morte do feminino. O culto à Mãe Terra ( símbolo da fertilidade, a força motriz que dá origem ao mundo. A Mãe é representada como uma estátua de uma mulher com curvas generosas) é derrubado pelas crenças propagadas pela Igreja Católica. Patriarcal, a mulher torna-se a razão do pecado. Pois é ela quem provoca Adão e os expulsa do paraíso ao comer do fruto proibido.
E daí por diante, Michelet vai desfazendo o seu fio de Ariadne através dos registros deixados pelos inquisidores do período.
Vale a pena. Nos próximos posts tentarei tecer algumas considerações sobre as interpretações que J. Michelet traz sobre estes contos que citei.
E foi uma vez para Pã.
Atenção: a imagem que ilustra este post foi retirada do blog Poeira Cósmica. Infelizmente, não sei o artista responsável pela obra já que o blog não traz a informação. De qualquer forma recomendo uma visita se quiser saber mais um pouco sobre Pã.
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